Com aproximadamente 47,87 milhões de matriculas na Educação Básica (em contrapartida aos 48,45 milhões de 2018), esta etapa do ensino brasileiro observou uma queda de 1,2% no número de matrículas entre 2018 e 2019 - o que poderia, a grosso modo, ser considerado um sinal de alerta para escolas do setor como um todo. Porém, uma análise mais profunda e detalhada nos permite entender melhor o que esses números realmente significam e qual a perspectiva para a rede privada de ensino para os próximos anos. E esse é um dos focos desta segunda edição do Panorama Escolas Exponenciais.
Em nossa primeira edição da revista Panorama Escolas Exponenciais - o Ensino Privado no Brasil -, apontamos que, segundo projeções do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o crescimento da população brasileira vinha diminuindo ao longo dos últimos anos e, especificamente em relação às faixas etárias correspondentes à Educação Básica (da Creche ao Ensino Médio), observaríamos uma gradativa diminuição no número de alunos. E essa previsão pode ser confirmada com a divulgação, no início de 2020, dos resultados do Censo Escolar 2019 pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
Para iniciar nossa análise é importante ressaltar que essa queda, na verdade, reflete-se em todas as etapas da Educação Básica, com exceção da Educação Infantil - especificamente nas matrículas em Creches (alunos de 0 a 3 anos) - em que o crescimento foi expressivo, com um aumento de 4,7% no total de alunos.
Esse cenário geral ajuda-nos a contextualizar o panorama educacional brasileiro, porém está longe de refletir a realidade do setor privado na Educação Básica. Por mais que o período iniciado em 2015, e que se estendeu até 2018, tenha sido de desafios para as escolas privadas em função da combinação de crise financeira e desemprego, o ano de 2019 aponta para uma mudança de perspectiva.
Ao contrário dos dados gerais, em 2019, as matrículas na rede privada apresentaram um crescimento em todas as etapas - de 0,2% a 5,1%. Vale dizer, aliás, que o percentual de matrículas da rede privada, se comparado aos números da rede pública, aumentou, reforçando o papel cada vez mais significativo do mercado da educação privada no sistema educacional brasileiro.
No ano de 2018, havíamos observado um aumento significativo de vagas de Educação Infantil no Ensino Público, o que fez com que a participação do setor privado no segmento caísse 0,3 pontos percentuais, apesar do crescimento na quantidade absoluta de matrículas nas escolas particulares. Porém, em 2019, a rede privada voltou a crescer, dessa vez em um ritmo ainda mais acelerado, com um salto de 5,1% nas matrículas de 0 a 3 anos e de 1,6% nas de 4 e 5 anos.
Contudo, é no Ensino Fundamental e no Ensino Médio - onde observamos uma maior retração no número de matrículas - que verificamos o crescimento da relevância do ensino privado. Em relação aos dados nacionais, em 2019 observamos um aumento da participação das matrículas em escolas privadas entre 0,3% e 0,4%, dependendo do segmento. Antes dos problemas causados pela pandemia, projetávamos um crescimento acumulado para a rede privada da ordem de 17% para o próximo período de 10 anos. Porém, apenas com os próximos resultados do Censo Escolar poderemos ter a real dimensão de como se comportará o percentual de matrículas da rede privada em comparação com a rede pública.
Dentre os 5.570 municípios do Brasil, apenas 3.194 (57,3%) possuem pelo menos 1 escola privada de educação básica. Neste mapa municípios que não possuem matrículas na rede privada aparecem na cor branca (42,7%).
O mercado da educação básica privada brasileira possui uma pulverização gigantesca. São mais de 40 mil escolas, espalhadas por mais de 3 mil cidades. Por outro lado, se considerarmos apenas as 50 maiores cidades do Brasil, observaremos que estes centros concentram 44% das escolas particulares e mais de 50% das matrículas da rede privada.
Sabemos ainda que, por mais que fatores econômicos e políticos, muitas vezes influenciados por decisões de caráter nacional, impactem instituições de ensino de todo o país, não é difícil notar que não existe “um mercado” de educação básica, mas centenas deles espalhados pelo país.
Por esses motivos, optamos por construir o Panorama Escolas Exponenciais a partir do recorte construído com os dados dos 50 maiores municípios brasileiros, considerada a projeção populacional divulgada anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Seguindo este parâmetro, observamos uma mudança entre 2018 e 2019. O muncípio carioca de São João de Meriti deu lugar ao município de Mauá - SP.
Norte
8% da população brasileira
5 municípios selecionados
Centro-Oeste
9% da população brasileira
5 municípios selecionados
Nordeste
27% da população brasileira
11 municípios selecionados
Sudeste
42% da população brasileira
23 municípios selecionados
Sul
14% da população brasileira
6 municípios selecionados
Em nossa primeira edição, publicada em agosto de 2019, usamos dados do censo populacional do IBGE de 2018 para elencarmos os 50 maiores municípios brasileiros. Porém, para esta 2ª edição, quando passamos a usar as projeções de 2019, divulgadas pelo instituto, o município paulista de Mauá ultrapassou o município de São João de Meriti/RJ, em número de habitantes. Dessa forma, a 50ª posição em nossa lista contará com um estreante em nosso panorama.
É interessante notar que os dois municípios, apesar de terem populações em número parecido, possuem redes educacionais com enormes diferenças. Além da população, as cidades possuem quantidades similares de alunos na educação básica, com o município fluminense tendo superado o paulista em pouco mais de 300 alunos. No entanto, quando observa-se a rede privada de cada cidade há uma diferença enorme. Enquanto São João de Meriti possui 40,2% de seus alunos cursando a educação básica na rede privada, em Mauá esse percentual é de apenas 16,2%.
Vale lembrar que focamos nossa análise naquilo que chamamos de “ensino regular tradicional”, considerando as matrículas em escolas, da Creche à 3ª série do Ensino Médio. Desta forma, não consideramos matrículas em Educação de Jovens e Adultos, Cursos Profissionalizantes e Cursos Técnicos, além daquelas que apontavam para o Ensino Fundamental de 8 anos. Além disso, não foram consideradas as matrículas em turmas de atividades complementares e de atendimento educacional especializado.
A partir desse recorte, das 43,4 milhões de matrículas registradas pelo MEC no Censo Escolar de 2019, consideramos para as análises seguintes, dados os 50 maiores municípios, um universo de 4.097.217 matrículas - o que corresponde a 9,4% das matrículas nacionais e pouco mais de 50% das matrículas da rede privada.
CURIOSIDADES POPULACIONAIS
• São José dos Campos (SP) ultrapassou Santo André (SP), assumindo a 25ª posição.
• Ribeirão Preto (SP) cresceu mais que Jaboatão dos Guararapes (PE) e Osasco (SP), assumindo a 27ª posição.
• Londrina (PR) ultrapassou Juiz de Fora (MG) assumindo a 38ª posição.
• Serra (ES) saltou duas posições, ultrapassando Niterói (RJ) e Belford Roxo (RJ), assumindo a 42ª posição.
• Aparecida de Goiânia (GO), Macapá (AP) e Serra (ES) foram as cidades com maior crescimento percentual em 2019.
• Osasco (SP), Nova Iguaçu (RJ) e Porto Alegre (RS) foram as cidades com menor crescimento populacional em 2019.