Diagnóstico Nacional da Educação

Uma análise do ensino remoto em 2020

O ano de 2020 havia começado como outro qualquer. O país experimentava uma lenta, porém contínua, recuperação econômica (desde 2017 o PIB vinha apresentando um crescimento trimestral)- fato que, para as escolas privadas, dava uma perspectiva de continuidade no crescimento no número de matrículas e melhora no mercado como um todo. Os números do Censo Escolar de 2019, inclusive, já apontavam nessa direção.

No entanto, cerca de um mês depois do início do ano escolar, uma pandemia de coronavírus passou a fazer vítimas fatais e a comprometer as estruturas de saúde em todo mundo. Neste momento, uma das principais medidas de contenção do vírus, de acordo com as maiores autoridades médicas e de saúde estava, justamente, no isolamento social. Ou seja, seria necessária a suspensão das aulas presenciais.  E, assim, no dia 11 de março, o governo do Distrito Federal foi o primeiro a suspender as aulas. Naquele momento havia uma previsão de suspensão de 5 dias e a orientação era para que o Conselho de Educação orientasse as instituições sobre como proceder para que não houvesse prejuízos na aprendizagem naquele período. No ato da publicação, a suspensão foi de 15 dias com antecipação de parte das férias escolares de julho para a 2ª quinzena de março. Logo em seguida, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins anunciaram medidas semelhantes.

Confira o cronograma da suspensão das aulas presenciais

Entre o primeiro anúncio e a paralisação completa das escolas de educação básica passaram-se apenas 12 dias. Uma situação completamente inimaginável para qualquer gestor no início do ano letivo de 2020.

No entanto, aqueles que estavam atentos ao cenário internacional tinham indícios, desde o início de fevereiro, de que algo excepcional estava por vir. Na China, epicentro da pandemia, os alunos estavam em férias de inverno e assim permaneceriam até 16 de fevereiro. No entanto, já existiam sinais de que o país asiático adiaria a volta às aulas. Na Itália, epicentro europeu na época, com a decretação de lockdown as aulas, em todas as escolas , foram suspensas a partir de 22 de fevereiro.

No Brasil, mesmo com o primeiro caso confirmado apenas em 26 de fevereiro, a partir desta, os acontecimentos vieram de maneira extremamente rápida. Em um período de 15 dias o número de casos começou a aumentar rapidamente e antes mesmo que o primeiro óbito fosse confirmado em nosso país (o que ocorreu no dia 17 de março), alguns estados já haviam optado pelo fechamento das suas escolas.

Neste sentido, vale dizer que, as escolas cuja a gestão vinha monitorando a situação da pandemia no exterior desde o início do ano, podem dizer que não foram pegas totalmente de surpresa com as decisões tomadas na primeira quinzena de março. Porém, é provável que ninguém imaginasse a dimensão e o impacto de tudo isso na educação brasileira.

A partir daí, grande parte das escolas brasileiras iniciaram uma jornada por caminhos nunca antes ou pouco explorados. Apesar da indicação para que as escola se preparassem para oferecer aulas online, até aquele momento, havia um grande vácuo regulatório sobre o tema. Foi apenas em 1º de abril que o Governo Federal editou a Medida Provisória (MP) 934 que abordava o assunto (aulas online) e também que flexibilizava questões relativas à carga horária anual e à quantidade de dias letivos.

Quando a MP chegou, milhares de escolas pelo Brasil já realizavam atividades online. No entanto, a extensão da crise ainda não estava clara. Muito se discutia até quando duraria a suspensão das atividades presenciais. Naquele momento, os primeiros decretos (que inicialmente previam até 15 dias de aulas suspensas) começaram a ser renovados - o que passou a levantar questionamentos e a causar preocupações nos gestores sobre possíveis perdas de matrículas e sobre quais as melhores estratégias para reter os alunos e mantê-los engajados e evoluindo com o contexto das aula remotas.

Logo nos primeiros dias de suspensão, muitos pais passaram a questionar as instituições privadas em relação a descontos na mensalidade em função da "não prestação dos serviços educacionais", da forma como ele havia sido planejado/contratado.

Em 10 dias, o Brasil precisou repensar toda a sua educação.
Para contornar o problema, as escolas buscaram 3 principais caminhos:

Estruturar e dar início a um modelo de aulas online robusto, de modo a manter a oferta de horas/ aula, mesmo de forma remota;
Ceder à pressão das famílias e conceder descontos;
Antecipar parcialmente/integralmente as férias de julho, como forma de ganhar tempo para se planejarem.
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Em relação ao mês de abril, qual o posicionamento da sua instituição:

*Pesquisa realizada entre 22 e 29 de março 2020

Diante deste cenário de mudanças extremamente rápidas, o Escolas Exponenciais (EX) reafirmou e intensificou o seu papel de referência como fonte de informação para o mercado da educação privada. Além de ser um dos primeiros a organizar eventos online regulares para discutir os desdobramentos da suspensão das aulas presenciais, o EX passou a realizar pesquisas rápidas com o intuito de oferecer subsídios aos gestores para tomada de decisão, ainda naquele contexto.

A primeira delas teve como foco os desafios enfrentados pela educação básica em relação ao planejamento de abril. Naquele momento, muitas instituições temiam tomar decisões descompassadas com a maioria das escolas, ao mesmo tempo que não haviam orientações consonantes advindas dos órgãos competentes.

Realizada entre 22 e 29 de março, a pesquisa contou com a participação de mais de 120 escolas - a maioria do estado de São Paulo (88%) -, e mostrou que as instituições estavam divididas.

Em relação à possibilidade de antecipação de férias para abril, 53% das escolas estavam decididas naquele momento a não pararem e a manterem suas atividades com EaD* (*naquela época, essa era o termo popularmente mais adotado. Só mais adiante, passou-se a utilizar o termo “aulas remotas”). Dentre os outros 47%, haviam muitas divergências em relação a como lidar com o período:

Se por um lado, dar férias de 30 dias poderia ajudar na organização naquele momento, por outro, trazia o questionamento sobre como seria o 2º semestre sem as férias de julho. Por outro lado, dando apenas 15 dias de férias, a dúvida era se haveria tempo suficiente para montar uma estratégia para as aulas remotas.

É válido dizer também que, naquele momento, muitos gestores ainda acreditavam que em menos de um mês, tudo teria voltado ao normal.

Neste mesmo momento, ao mesmo tempo que tentavam se organizar para o ensino remoto,  muitas escolas passaram a enfrentar dificuldades financeiras. Tendo em vista que muitas famílias foram imediatamente impactadas com a recessão financeira advinda das medidas de isolamento social (como o fechamento dos comércios, por exemplo) e outras tantas não davam crédito ao modelo de aulas online, muitos pais e responsáveis passaram a cancelar matrículas, atrasar pagamentos, ou pedir renegociação de valores.Nesta mesma pesquisa, realizada pelo Escolas Exponenciais no final de março, das instituições que participaram, 72% apresentavam problemas para receber mensalidades, porém, apenas 36% estava com dificuldades em pagar seus funcionários e fornecedores.

Em função da suspensão de aulas, você está tendo dificuldades em relação a questionamentos de pais sobre o pagamento da mensalidade escolar?
Em função da suspensão de aulas, você está tendo dificuldades com sua equipe em relação a pagamentos de salários, trabalho remoto ou outros problemas?
*Pesquisa realizada entre 22 e 29 de março 2020

Vale lembrar também que, nesse cenário, semanalmente surgiam projetos de lei exigindo descontos na mensalidade. Escolas e pais tinham dificuldade em se entender, muitas vezes em função de orientações desencontradas de diferentes órgãos, como os Procons estaduais. E, ao mesmo tempo que famílias questionavam o pagamento das mensalidades por dificuldades financeiras ou mesmo em função das aulas não presenciais, muitas escolas demoraram a encontrar soluções que atendessem a contento tanto a demanda dos alunos e dos pais, como também, que dessem suporte aos professores que, por sua vez, estavam sendo tão desafiados a se reinventarem para as aulas remotas, como as próprias instituições.

Quais questionamentos os pais têm apresentado em relação à mensalidade?
Quais dificuldades você tem enfrentado em relação aos professores/funcionários?
*Pesquisa realizada entre 22 e 29 de março 2020

Porém, este cenário de incertezas e questionamentos aos poucos foi dando lugar a um "novo normal". Com exceção da educação infantil, em maio, a maioria das escolas já havia construído um modelo mais funcional de educação online.

Havia nesse período ainda muita experimentação em busca de estratégias que melhor se adaptassem ao perfil de cada instituição. Enquanto algumas escolas utilizavam materiais e gravações oferecidas pelos seus sistemas de ensino, outras utilizavam aulas gravadas pelos próprios professores e distribuídas pelo YouTube. Ao mesmo tempo, várias instituições conseguiram implementar modelos de aulas ao vivo, transmitidas por plataformas como o Google Meet, Zoom e Microsoft Teams. Em algumas escolas (especialmente aquelas que não deram férias em abril), em menos de um mês, grande parte dos alunos já estavam tão adaptados ao novo modelo que o foco dos gestores passou a ser aprimorar as ferramentas e implementar os melhores modelos de avaliação.

Foi nesse contexto, que o Escolas Exponenciais desenhou e implementou o Diagnóstico Nacional da Educação. Sabendo que a educação brasileira enfrentava seu maior desafio, construímos uma pesquisa integral, que olhasse não apenas para um aspecto isolado da crise, mas que buscasse traçar o mais completo cenário da Educação Básica ao longo do período de aulas remotas. Pais, professores e gestores foram questionados com o intuito de compreendermos, da forma detalhada possível, como o setor da educação privada brasileira se comportou e lidou com os principais desafios da educação no contexto da pandemia.

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